quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Matemática

A Tragédia da Matemática

Num certo livro de matemática, um quociente apaixonou-se por uma incógnita. Ele, o quociente, produto notável de uma família importantíssima de polinômios. Ela, uma simples incógnita, de mesquinha equação literal. Oh, que tremenda desigualdade. Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito até o menos infinito. Apaixonado, o quociente a olhou do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos. Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide (rombo=losango), boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais (curvas). – Quem és tu? – perguntou o quociente com olhar radical. – Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me chamar de hipotenusa – respondeu ela com uma expressão algébrica de quem ama. Ele fez de sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito. E se amaram ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, retas e curvas no jardim da quarta dimensão. Ele a amava e a recíproca era verdadeira. Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida. Três quadrantes depois resolveram se casar. Traçaram planos para o futuro e todos desejaram a felicidade integral. Os padrinhos foram o vetor e a bissetriz. Tudo estava nos eixos. O amor crescia em progressão geométrica. Quando ela estava em suas coordenadas positivas, tiveram um par: o menino, em homenagem ao padrinho, chamaram de versor; a menina, uma linda abscissa. Ela sofreu duas operações. Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante. Foi aí que surgiu um outro, sim, um outro. O máximo divisor comum, um freqüentador de círculos viciosos. O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta. Ela sentiu-se imprópria, mas amava o máximo. Sabedor desta regra de três, o quociente chamou-a de fração ordinária. Sentindo-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles. Quando os dois amantes estavam em colóquio, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e nu giro determinante disparou o seu 45. Ela foi para o espaço imaginário e ele foi para num intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.

PET Matemática - UFSC

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